A Fraude Ocupacional: entendendo e mitigando a Oportunidade.


Mário Sérgio Ribeiro (*) O caso da Americanas trouxe de volta à cena as questões relacionadas à Fraude Ocupacional. As investigações prosseguem mas, os indícios, pelas notícias publicamente vinculadas, dão conta de que pode ter ocorrido uma fraude ocupacional (FO). Read more

Mitos da certificação na ISO 27001


Mário Sérgio Ribeiro (*) Um movimento importante ocorreu nos últimos dois anos acerca da procura e da conquista da certificação de empresas nacionais na ISO 27001, a norma de segurança da informação. Os motivos para tanto talvez pouco importem – Read more

O Porquê de se ter um Gerenciamento de Crise.


Mário Sérgio Ribeiro (*) ________________________________________________________________________________________ Em tempos bicudos, especialmente como esse em que vivemos, considero de extrema importância que qualquer empresa, seja ela pública ou privada, ter um Gerenciamento de Crise implementado.   Infelizmente, uma Crise não anuncia quando vai ocorrer, Read more

Incerteza, acaso, imprevistos: a influência em nossas vidas e na vida das empresas.

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(*) Mário Sérgio Ribeiro

 

Você consegue recorrer a sua base histórica, armazenada nos rincões de sua memória e recuperar a informação de quantas vezes o Acaso esteve presente em sua vida pessoal, seja para o bem ou para o mal? Quantas vezes a Incerteza tomou conta de sua vida e a vida das empresas em que trabalhou ou trabalha, quando decisões precisavam ser tomadas? Percebeu que a cada dia que passa, novas “surpresas” vão acontecendo, quantos imprevistos, o que não existia, passa a existir, que nossas previsões não conseguem ser mais tão assertivas como tempos atrás?  

 

Provavelmente irá se surpreender com o número de ocorrências. Elas certamente são maiores do que você imaginava. Quantos acasos nos levaram a inúmeras descobertas, quantas incertezas levaram empresas e até nações a tomarem decisões erradas. Quanta suposta subjetividade parecia existir na probabilidade, na chance de algo ocorrer, e, muitas vezes de forma até negligenciadora, fizemos a coisa errada. Vamos explorar essa temática.

 

De uma maneira geral somos orientados desde criancinha a trilhar uma vida dentro de padrões, de regras, e dentro do possível, tocas a vida de uma forma planejada. O padrão e o planejado gostam de andar de mãos dadas com a certeza, daquilo que podemos prever e que de fato vai acontecer. Adoramos quando podemos prever, e mais ainda quando acertamos as previsões, mas detestamos a incerteza. Somos contextualizados a não tolerar a incerteza e por conta disso, geralmente a colocamos de lado, mas temos conosco, mesmo de forma subliminar, que ela existe. Com o Acaso a mesma coisa, mas se for para o lado bom, torcemos para que ele sempre apareça.

 

Ocorridos fora do planejado podem ser exemplos interessantes. Vejam o que ocorreu com essas empresas:

·         A Coca-Cola começou como um produto farmacêutico;

·         A Tiffany & Co, hoje famosa por suas joias, começou como uma loja de artigos de papelaria;

·         A Nokia,que já foi a maior fabricante de telefones celulares, teve início como uma fábrica de papel e em algum momento chegaram a fabricar sapatos de borracha;

·         A DuPont, hoje com uma infinidade de produtos, mas famosa por suas panelas antiaderentes de teflon, lançou-se como uma empresa de explosivos;

·         A Avon, empresa de cosméticos, começou com a venda porta a porta de livros.

 

O que não é esperado, planejado, que pode ser trazido por uma situação, um evento aleatório qualquer, pode ter o seu lado bom, como também um lado ruim. Cada uma dessas empresas citadas tem em sua história de mudança, o que parecia ser certo por seu planejamento estratégico inicial, mostrou-se errôneo no decorrer do tempo, e o sucesso ocorreu de outra forma.

 

Se você for conversar com pessoas idosas, ainda vivas, acima dos 80 anos, constatará que a vida era mais fácil, podemos dizer bem mais previsível. Converso muito com minha mãe que tem 98 anos, nascida, portanto, em 1919. Nasceu logo após o final da primeira guerra e passou por diversas transformações que aconteceram no mundo ao longo desse quase um século.

 

Ela fala que a grande maioria das coisas que você planejava fazer para sua vida, a maioria ocorria sem muitos solavancos, mas ocorriam. Os ruídos ou sinais que porventura aconteciam no percurso, eram possíveis de serem percebidos e se podia ajeitar o curso das coisas. Muitas pessoas se aposentavam naquele que era o seu primeiro emprego. Havia certa estabilização, havia menos incertezas, a vida provavelmente era mais fácil de se levar.

 

Hoje a coisa é bem diferente. Se olharmos o universo que gira em torno de nossas vidas e da vida das empresas percebemos que as variáveis desse enorme sistema são quase que infindáveis. Com tantas variáveis e poucas constantes, nossas incertezas se acumulam e como! Corajoso aquele que realiza previsões, sejam elas quais forem nos dias atuais. A chance de acertar na mosca é quase que nenhuma, mas a possibilidade de fazer previsões é parte do ser humano.

 

Nessa linha que estamos tratando poderíamos pensar em o que devemos fazer, ou o que podemos fazer para reduzir as incertezas que nos cercam? Como podemos tornar um pouco mais certa tanta coisa incerta? E o acaso, o aleatório, como podemos nos proteger de sua aparição?

 

Para as incertezas você quase sempre tem a possibilidade de decidir. As incertezas obriga você a trabalhar com a chance de que algo possa acontecer e que possa trazer impactos positivos ou negativos, claro, dependendo do contexto que esteja avaliando. A ideia é encontrar esse grau de incerteza e tentar reduzi-lo. Um bom método de procurar reduzir esse grau de incerteza é utilizar componentes do gerenciamento de risco.

 

Em minhas aulas e palestras sobre Risco costumo usar um exemplo da vida das pessoas para ajudar no entendimento dos conceitos que estamos aqui tratando. Vamos a um caso, muito comum por sinal nos dias atuais.

Suponhamos que um indivíduo esteja em um bar com amigos e começa a ingerir bebida alcoólica, ultrapassando facilmente os limites definidos na Lei de trânsito. Analisemos duas hipóteses nesse caso. Uma primeira, na qual o risco é evitado (elimina-se as incertezas) e a outra hipótese, o risco é assumido (assumem-se as incertezas e os possíveis impactos):

 

Hipótese1: Ele está sem carro próprio. Em uma primeira situação, esse indivíduo saiu de casa deliberadamente sem carro, pois sabia que iria a um bar e iria beber acima do permitido. Voltaria de taxi ou pegaria carona com algum amigo que estivesse de carro, mas que não havia bebido. Ele retirou suas incertezas, reduzindo-as a zero com essas ações preventivas, evitando o risco de dirigir seu carro alcoolizado e assumir riscos deliberadamente.

 

Hipótese 2: Ele está de carro próprio. Saiu de casa de carro sabendo que iria a um bar e que beberia, certamente acima do permitido por Lei. Foi o que ocorreu: bebeu bem acima do permitido. Sua dúvida, sua incerteza é: pego o carro e assumo todos os riscos decorrentes ou evito os mesmos riscos pegando um taxi, ou solicitando a um amigo que não bebeu que leve o meu carro. O que fazer?

 

Interessante verificarmos que se olharmos as situações sobre a ótica do risco, fica mais fácil tratar das incertezas que nos cercam. Claro que na situação colocada acima, atuar preventivamente indo de táxi, eu evito o risco e elimino qualquer incerteza. Agora, quando eu assumo as consequências do risco pegando o carro alcoolizado, minhas incertezas permanecem até estacionar o carro na garagem de casa.

 

No trajeto do bar até sua residência o indivíduo está sujeito a todas as variáveis do risco que assumiu: das incertezas, dos acasos, da aleatoriedade. Assume o indivíduo para si que está bem para dirigir, que não haverá blitz, que ninguém estará atravessando uma rua quando ele virar a esquina… e por aí vai. Então, qual a melhor decisão, ou quem sabe, a única?

 

E se na vida de nós próprios mortais a vida é repleta de incertezas e riscos, não é diferente para as empresas. Certamente toda decisão tomada no ambiente empresarial vem imbuída de uma série de incertezas, mas que, provavelmente antes de tomá-la, deve se procurar reduzi-la a um mínimo tolerável, buscando a certeza da melhor decisão.

 

No ambiente empresarial, muito mais do que na vida da maioria dos indivíduos, o uso da prática do risco como elemento mitigador de incertezas e busca cada vez mais de decisões assertivas nos dias atuais, soa como elemento de sobrevivência. E também aqui, acaso, aleatoriedade, volatilidade “ajudam” a temperar ainda mais o contexto.

 

Em uma sociedade minada de informações para todos os lados e cada vez mais com sistemas extremamente complexos e dependentes de inúmeras variáveis, as empresas tem lançado mão de todo o aparato tecnológico e não tecnológico para reduzir suas incertezas. Adotar a prática da gestão do risco passa a ser uma obrigatoriedade na maioria delas, em dias e cenários cada vez mais turbulentos.

 

Para finalizar esse artigo compartilho com vocês o que ocorreu em uma recente apresentação que fiz sobre a Gestão da Continuidade de Negócios. Um participante perguntou o porquê da empresa dele ter que elaborar e implantar um Plano desse se, até aquele momento, nunca havia ocorrido nenhum evento de magnitude que pudesse paralisar suas operações e que ele também não via indício de ocorrer no futuro? Disse que ficava contente em poder responder essa pergunta e vamos a um resumo dela abaixo:

 

Eu e você sabemos que se elabora e implanta-se um Plano de Continuidade de Negócios (PCN) para não sermos surpreendidos por eventos que possam paralisar o negócio. Sabemos também que esses eventos podem ter, desde baixa até alta chance de ocorrência, e seus impactos podem levar uma empresa a parar de operar. Procuramos ter um tratamento preventivo para nossas inúmeras incertezas e preservar o negócio. Incertezas essas alinhadas às incontáveis ameaças que rondam o negócio. No ambiente empresarial podemos ter uma lista de riscos operacionais que passam facilmente de mais de cem ameaças. Vamos pegar uma boa: um incêndio.

 

Como está a instalação elétrica da empresa? E se for condomínio, como está a instalação do condomínio e a do seu vizinho? Ah, mas não temos nada a ver com o condomínio, com o vizinho. Ok, mas se tiver problemas ali, a ameaça pega a todos, e pode ser uma vez só, como no caso do incêndio. Então, mesmo que nunca tenha ocorrido, e oxalá sempre torcemos para nunca ocorrer, não quer dizer que não vai ocorrer. E se porventura ocorrer, a empresa não descontinua, pois tem um tratamento a esse risco que atende pelo nome de PCN. Lembrando: você faz um Plano desse para não ter que usar mesmo, mas, se aparecer a Crise, ele está ali!

 

Essas e outras infinidades de incertezas, normais em sistemas cada vez mais complexos, como foram mencionadas ao longo desse artigo, nos faz repensar a forma que pensamos e agimos sobre elas. Não conseguimos evitar ou reduzir todas que queremos, mas podemos priorizar quanto à criticidade de suas consequências e adotar medidas que tragam mais certezas do que incertezas.

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(*) 58 anos, engenheiro, mestre em segurança da informação pela USP. Sócio da ENIGMA Consultoria. Professor da FIA-USP e da ANBIMA. E-mail: mario.ribeiro@enigmaconsultoria.com.br