A Fraude Ocupacional: entendendo e mitigando a Oportunidade.


Mário Sérgio Ribeiro (*) O caso da Americanas trouxe de volta à cena as questões relacionadas à Fraude Ocupacional. As investigações prosseguem mas, os indícios, pelas notícias publicamente vinculadas, dão conta de que pode ter ocorrido uma fraude ocupacional (FO). Read more

Mitos da certificação na ISO 27001


Mário Sérgio Ribeiro (*) Um movimento importante ocorreu nos últimos dois anos acerca da procura e da conquista da certificação de empresas nacionais na ISO 27001, a norma de segurança da informação. Os motivos para tanto talvez pouco importem – Read more

O Porquê de se ter um Gerenciamento de Crise.


Mário Sérgio Ribeiro (*) ________________________________________________________________________________________ Em tempos bicudos, especialmente como esse em que vivemos, considero de extrema importância que qualquer empresa, seja ela pública ou privada, ter um Gerenciamento de Crise implementado.   Infelizmente, uma Crise não anuncia quando vai ocorrer, Read more

As pessoas, seus novos hábitos, costumes e comportamentos e a segurança das informações.

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Mário Sérgio Ribeiro (*)

Se você parou para pensar e refletir um pouco sobre o que vem acontecendo no dia a dia deve ter notado o quanto as relações e comportamentos das pessoas têm mudado e a velocidade que isso tem acontecido. É fato! A Tecnologia da informação e comunicação tem patrocinado mudanças significativas no modo de as pessoas se relacionarem, se comunicarem. Essas mudanças criam novos hábitos, comportamentos, muda a forma de as pessoas se relacionarem com o mundo exterior. Nesse contexto eu pergunto: como as empresas, que têm como principal ativo Pessoas, tem percebido e encarado essas transformações? Como essas mudanças podem afetar o ambiente corporativo e colocar em risco o outro ativo, o segundo em importância, as informações corporativas.

 

A tecnologia e comunicação nos últimos dez anos se tornou o principal catalisador na mudança de hábitos e comportamentos das pessoas. Celular que virou computador com internet e máquina fotográfica, velocidade maior pela rede, meios instantâneos de se comunicar, como o falecido Orkut, o viciante facebook, instagram, twitter, o mais novo e conquistador com o nome de WhatsApp, ou zap zap como brasileiro gosta de chamar. Alguns têm falado que o tal e-mail já coisa do passado, é para Tiozão!!!

 

Enquanto escrevia esse artigo li uma pesquisa saindo no portal da UOL. A manchete dizia que 75% dos casais brasileiros se comunicavam via WhatsApp, sendo esse o principal meio de comunicação escolhido. As mulheres o utilizam mais do que o homem e muitas falaram que não sabiam dizer quantas vezes o fazem por dia, sabiam apenas que eram muitas, muitas comunicações com seus amados.

 

Mais uma constatação a uma máxima que eu e você já sabemos: trocamos literalmente a fala, mesmo por telefone, não precisa ser mais aquela olho no olho, pelas palavras. Os casais não se falam mais, imagem os outros. Se já pelo telefone a coisa é fria, imagina por palavras…

 

O povo brasileiro gosta de se comunicar, de interagir. Hoje temos mais celular do que aparelhos fixos. Alguém poderia imaginar algo assim? Essa gama de dispositivos tecnológicos e de comunicação, aliado às “invenções” para popular esses dispositivos, mudou alguns paradigmas. Por exemplo, que tal pensarmos o que as pessoas fizeram com a sua privacidade?

 

A partir do lançamento do Orkut e posteriormente do microblog Twitter, até os Instagrams da vida, as pessoas tiveram a possibilidade de se expor, se expuseram, e como vem se expondo!! Se pensarmos que a onda pegou a partir do uso maciço por pessoas públicas (artistas, celebridades e pseudo-celebridades, políticos…) que passaram a utilizar as primeiras redes sociais e o Twitter para se expor, até porque vivem dessa exposição, pessoas comuns gostaram da ideia e foram à luta. Vejam que quase 2 bilhões de pessoas usam o facebook.

 

O que é fato aqui, é que a tal preservação da privacidade é, em muitos exemplos, banida pela própria pessoa. Quantos e quantos casos tomamos conhecimento pela mídia onde o culpado foi a quebra da privacidade patrocinada pela própria vítima? E pior, vários deles com consequências catastróficas.

 

Não quero e nem pretendo entrar na discussão psicológica, sociológica e até antropológica do tema, mas é inegável que as pessoas de uma maneira geral estão se expondo e expondo seus familiares, em muitos casos de forma perigosa. Diante de tantos alertas e casos mostrados as pessoas continuam a quebrar sua privacidade se escorando em alicerces pouco seguros como: somente meus amigos me veem, não compartilho com quem não conheço, e por aí vai…De uma vez por todas as pessoas precisam entender que a melhor segurança é aquela que avalia o valor da informação antes de praticar qualquer ato. E esse parece ser um dos Xs da questão.

 

Quando faço minhas palestras de conscientização em segurança da informação nas empresas e coloco o tema sob a ótica pessoal/familiar e não somente corporativa, as pessoas parecem tomar um clic. E a coisa esquenta quando, por meio de uma dúzia de casos e de situações de risco, demonstro o que a pessoa pode estar fazendo com a sua segurança e de seus próximos.

Parece que definitivamente só se toma consciência quando partimos para um discurso um pouco mais duro, quando mostramos que antes de qualquer coisa avalie-se o VALOR da informação e as consequências de seu compartilhamento antes de tomar qualquer decisão.

Essas mudanças e transformações que vem ocorrendo no modo como as pessoas tem tocado suas vidas, mais uma vez como falei, patrocinado e muito pela tecnologia e comunicação, não há como não fazer uma relação com o ambiente do trabalho. As pessoas estão diferentes do que eram anos atrás com a incorporação desses novos hábitos, costumes e comportamentos querendo e/ou não querendo levando-os para dentro da empresa.

Ninguém sai de casa para trabalhar e diz para seus hábitos, costumes e comportamentos o seguinte: ei, vocês, fiquem quietinhos aí em casa que agora eu vou levar outros hábitos, costumes e comportamentos para ir trabalhar comigo? Alguém faz essa dissociação? Você e sua empresa já pensaram sobre isso?

Para os que não pensaram ou desacreditam nessa questão, poderia listar aqui uma série de ameaças e probabilidades que podem se transformar em impactos indesejáveis para a empresa, e ajudar a mudar de opinião.

Por exemplo, aliado a tais mudanças e o elevado poder dos “celulares” de hoje em dia, podemos pensar em alguém com alguma intenção, bater fotos de tela, de documentos que não deveriam ter acesso e de alguma forma tiveram e bum, em um clic, jogar onde quiser tais informações, inclusive na concorrência.

Para o caso dos não intencionados, alguma foto da equipe de trabalho em uma festinha de aniversário, com tela de computador aberta ao fundo, documentos sobre a mesa, etc.

Comentários públicos da empresa com o intuito de se gabar, tentando aumentar sua escala de valores como uma pessoa importante…É, a lista pode ser imensa.

 

OK, mas o que e como fazer com a questão?

Em primeiro lugar e de forma clara você precisa entender e aceitar esse novo contexto em nossas vidas. Não há como mudar o curso onde a maioria deseja levar. Em segundo lugar precisa ter em mente que, em se tratando de ambiente de trabalho, na segurança das informações corporativas, são as Pessoas o ativo mais importante. Elas são o agente da ameaça, que é aquele sujeito que perpetra uma ameaça explorando vulnerabilidades existentes.

 

Entendendo e aceitando essas duas ponderações é necessário arregaçar as mangas e agir. Agir no sentido de reduzir o risco das possíveis consequências. Essa ação demandará identificar e implantar controles que possam levar a um risco residual aceitável para a empresa.

 

Sei que muito provavelmente vários desses controles você deve tê-lo implantado na empresa. Modelos de contratação que olhem para o SER Políticas, Normas, Códigos, controles de acesso físico, lógico, PLRs, etc. devem fazer parte desse rol de controles. Ok. Mas uma rápida e simples pergunta que faço: eles permanecem operando de forma a deixar o risco residual no patamar que se julgou aceitável? Todo o controle deve ter uma espécie de “memorial descritivo” e será que o tal memorial descritivo continua a ser atendido?

 

Ainda nessa linha, será que foi pensado nos devidos controles para mitigar o risco Pessoas nesse novo contexto que ponderei? Não faltou ou não falta nada? Digo isso porque normalmente encontro a falta de alguns controles importantes, como o Programa de Conscientização e Educação em Segurança da Informação, Antifraudes e ilícitos semelhantes. O seu programa de conscientização, caso você o tenha e o execute de forma continuada, anda acompanhando essas mudanças e transformações comentadas nesse artigo?

 

Julgo o Programa de Conscientização um dos controles mais eficazes nessa luta pela mitigação dos riscos com a segurança das informações corporativas e assemelhados. Aumenta sua importância com esses tempos bicudos e de mudanças e transformações citadas. Mas existem limitações em sua eficácia quando não for devidamente planejado e implantado.

 

É fundamental que um programa desses tenha em seu planejamento a ideia de que ele não é para ser feito uma vez na vida e outro na morte. Um dos atributos de sua eficácia é a sua continuidade. Sua execução deve acontecer ao longo do ano, e não somente com uma palestra e pronto. Isso funciona em pequena escala, não colocando o risco em um patamar residual que desejamos. Pense nisso.

 

Como conclusão gostaria de deixar uma reflexão. O mundo tem se transformado diariamente e em uma velocidade que não percebemos, que não temos tido tempo para parar e pensar no que está ocorrendo. E nessa linha, são as Pessoas que estão conduzindo essas transformações e vivenciando o que há de bom e também o que há de ruim. Já falado, somos vítimas ou felizardos de nossos atos e também dos outros. As transformações nos hábitos, costumes e comportamentos das Pessoas têm alterado diariamente os riscos associados. Digo isso olhando para todos os lados, e não mais somente para um pequeno pedaço dele que tratei nesse artigo. Que possamos ter sabedoria e paciência para entender o que se passa, e procurar sempre as melhores formas de vivermos felizes e tentar ajudar os outros a também o ser!

 

Até a próxima!

 

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(*) 56 anos, engenheiro, mestre em segurança da informação pela USP. Sócio da ENIGMA Consultoria. Professor da FIA-USP e da ANBIMA. E-mail: mario.ribeiro@enigmaconsultoria.com.br